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sábado, 28 de agosto de 2010

Poesia: Que Venha a Vida. 24/12/005


A vida doi como corte de caco de vidro ou furo de agulha rombuda.
Entristece como separação de amantes.
Adoece como desnutrição.
Mata como desgosto de família.

Mas, renova como banho fresco.
Alegra como sorriso de criança.
Restaura como boa refeição.
Aviva como sopro na brasa.

Quando à partida.
Quando à encruzilhada.
Quando à plataforma de saltos.
Quando em presença do Juiz.
Quando à iminência da morte.

Precisamos partir.
Precisamos decidir.
Precisamos decolar.
Precisamos defender
Precisamos esquecer.
Que fazer? Viver...

Poesia: Como tudo se deu... (5-5-07)


SANTO DEUS! Que gente enfermiça!
Que trabalha, briga, chuta, mata, dorme,
Come, lava, seca, bebe, morre e vai a missa.

Não, não eu. Comigo não! sou diferente
Dessa gente que anda daqui pralí:
Não faço nada disso: morri.

Morri de amor - mas amor não mata, vivifica!
Ora, mas se eu não ressuscitar, mesmo com todo lirismo,
Saberei que não foi de amor que morri, mas de puro egoísmo.

Deus do céu, bendita concepção cristã!
Nada que eu escreva, diga ou faça
Me expurga dessa ironia malsã,

Que me comeu o fígado
Tal como o de Prometeu.
Crime e castigo - ação e reação.
Eis como tudo se deu.

Um conto: À Beira da Piscina

À Beira da Piscina

ESTA É UMA HISTÓRIA verídica (só tive de colocar nomes fictícios, é de praxe...) sobre pessoas comuns, como você e eu. Talvez haja a mesma tendência a agir pateticamente ante situações nas quais a pateticidade é a alternativa honrosa.
Maria Helena, 46 anos, bonita, divorciada, professora de inglês, um belo casal de filhos prósperos e independentes. Ariana, casada e esperando o primeiro filho e Paulo Henrique, que mora com o pai e é estudante de direito.
Maria Helena está à beira da piscina do clube que frequenta na cidade do Rio de Janeiro, sentada a uma daquelas mesas com um guarda-sol fincado no centro, quando avista, vindo em sua direção, Jorge Fernando, de 26 anos.
O coração de Maria Helena dispara como se fora o coração de uma adolescente.
_ Oi Maria Helena.
Ela não se decidiu se vai agir amistosa ou agressivamente. Afinal, há três meses eram namorados e apaixonados. Ele sumira inexplicavelmente e agora, assim, de repente vem a ela e diz "oi Maria Helena". Ficou em dúvida entre lançar-lhe ao rosto o conteúdo do copo a sua frente, dar-lhe as costas, chamá-lo de cafajeste ou tudo junto. Mas não contou com aquele desejo de abraçá-lo, beijá-lo, recebê-lo de volta. Conseguiu apenas dizer cordialmente:
_ Como vai, Jorge?
_ Tudo bem, e você?
Jorge Fernando puxa uma cadeira e senta-se próximo a Maria Helena. Ela abre a bolsa a procura de algo. Calma, Maria Helena, lembre-se que você jurou nunca mais sequer olhar para este canalha, caso ele aparecesse exatamente assim na sua frente.
_ Você parece ótima.
_ Eu estou ótima.
_ Então, ótimo.
_ E você? Não se preocupe, não vou enchê-lo de perguntas.
_ Vai-se indo.
_ Tem cigarro, Jorge? Não encontro os meus.
_ Você está fumando de novo, Helena?

Por sua causa, seu bandido. Lágrimas, cigarro, bebida, calmante. Lembrou-se de que quisera morrer, mas resistira à ideia por causa do amor aos filhos. Porém, disse:
_ Fumo pouco. Mas você não apareceu aqui para conversar sobre isso, foi?
_ Você está magoada comigo.
_ Nada. Por que estaria magoada? Só o que você fez foi me deixar um dia, sumir por três meses sem qualquer explicação, sem um telefonema, sem responder aos meus e-mails, sem entrar no Orkut... é comuníssimo, acontece todo dia...
_ Nada havia a explicar.
_ Esperei um mês e dei suas roupas para o porteiro.
_ Maria Helena...
Aquele sorriso. Calma Maria Helena. Não peça explicações. Se ele quiser voltar vai ser sob minhas condições. Ele se deu conta do que perdeu. Deixe-o ir falando.
_Você é uma pessoa muito importante para mim.
_ Sou?
_ Nunca conheci alguém como você.
_ Sei.
_ Verdade. Acho que você, sei lá. eu me transformei, fiquei mais maduro. Um negócio muito sério. Profundo...
Você venceu. Maria Helena. Saboreie sua vitória. Até sorria.
_ Acho que o que houve entre nós foi profundo demais para ser destruído. Entende? Eu estava errado. Não devia ter sumido daquele jeito, foi imaturidade minha.
_ Acontece.
_ Não seja assim, Helena.
_ Assim como?
_ Você ficou e ainda está magoada.
_ Não fiquei. Foi bom, mas acabou. Pronto.
Agora ele vai dizer que não acabou. Que não precisa acabar. Vai implorar. Vamos ouvi-lo.
_ Quero que você conheça uma pessoa. Helena, Helena, olha pra mim.
_ Quem é?
_ Ela está aqui no clube. Posso trazê-la aqui?
_ Pra quê? Tá bom, traz então.
Ele se ergue e sai correndo em direção ao lado oposto da piscina. São onze horas. Maria Helena sente vontade de sair correndo também. Desaparecer. Procura seus óculos escuros na bolsa. Desta vez encontra os cigarros, mas não os óculos. Jorge já está voltando e traz uma moça pela mão. Deve ter uns 20 anos.
_ Maria Helena, Graciele. Graciele, Maria Helena.
_ Oi Graciele.
_ Prazer, como vai a senhora?
_ Graciele é minha noiva, Maria Helena.
_ Opa! Noiva?
_ Eu queria que você a conhecesse.
_ Parabéns, bonita sua noiva.
_ A Maria Helena é uma pessoa...
Ele vai dizer que você é quase uma mãe para ele.
_ … uma pessoa cuja opinião eu respeito muito.
_ Pois minha opinião é que Graciele é uma moça linda. Parabéns pelo noivado.
_ Muito obrigada.
_ Obrigado, hein, Maria Helena, de verdade!
_ Obrigado por quê, gente?
_ Por tudo.
_ Que é isso, meu filho?
Depois que se afastam, Maria Helena abre depressa sua bolsa. Primeiro precisa encontrar seus óculos escuros. Depois pegar um lenço de papel para assoar o nariz e erguer a cabeça para evitar perda de dignidade. Coisas da vida. É patético, mas quem jamais sofreu um revés nessa área, que critique primeiro.